quarta-feira, 8 de abril de 2009

Facebook.

De tempos a tempos recebo um convite para ser amigo de alguém no Facebook.

E tão estranho receber um pedido de amizade de um amigo com quem estou todos os dias como de uma pessoa quase desconhecida.

"Ainda não tens Facebook, João?", perguntam-me amigos.

"Podes reencontrar pessoas com quem não falas há muito, podes, também, encontrar pessoas com os mesmos gostos que tu. Quem não está no Facebook quase não existe", fazem questão de sublinhar, dizem maravilhas como se tudo no Facebook fosse perfeito.

Depois de meses com estas conversas cedi. Confesso. Sim, porque eu, como todos, quero "existir". Além de querer, também, descobrir algo perfeito. Pelas descrições, o Facebook é claramente um exemplo acabado de perfeição.

Preenchi todos os passos.

Tenho de admitir que o Facebook é perspicaz. Não deixa nada de lado.

Toma lá uma lista de contactos do e-mail, outra de "pessoas que talvez conheças" e, ainda mais sagaz, "convida pessoas que ainda não têm Facebook".

Funciona quase como um anjo da guarda que zela para que não te esqueças de ninguém.

A partir de agora, não serás mais um amigo normal.

Não te esquecerás jamais das datas de aniversário, por exemplo.

"Podes também estar em contacto com amigos de fora de Portugal". É verdade, digo eu resignado.

Mal vou parar à página inicial, aparece a pergunta: "Em que estás a pensar?"

Sinto um soco no estômago. Em que estarei a pensar, afinal? Não é um amigo, num café ao fim da tarde, a perguntar-me. É o Facebook.

Sinto-me, exactamente, como a Alexandra Lucas Coelho descreveu.

Talvez faça o que ela fez.

Já não tenho de me lembrar dos amigos.
Tenho o "Localizador de Amigos".

5 comentários:

Andreia disse...

E por ali...vim dar aqui! :)
Olá João!
Localizador de amigos... e pretexto para... recuperar lembranças... Afinal amigos ou conhecidos?!
Um Beijinho para ti, espero que estejas Bem! Andreia :P
(qual Andreia?!.. pergunta ao localizador!)

Tiago FM disse...

O Facebook pergunta isso em português? Muito bom.

O Twitter acho que pergunta o que estás a fazer. Dantes era o que o Facebook dizia, parece-me.

Bem, então são tudo polícias-do-pensamento? Ou isto já será teoria-da-conspiração?
http://www.youtube.com/watch?v=ZMWz3G_gPhU

No entanto parece-me que é uma "polícia", um "investigador" idiota. Como o são quase todas as polícias políticas, do pensamento, ou sociais. Ou seja, só lhes dizemos o que nos apetece, o que queremos que saibam. Podemos mentir, e essa mentira pode ser vista facilmente como uma realidade.

É tão fácil não dar importância ao que lá se mete - basta não meter coisas que nos são importantes. Ou, se forem, que não temos qualquer dúvida que nos importamos de pôr.
Se formos para além disso, é porque, fora daquela rede ou site, é tão importante fazer como lá pôr - e isso é que me parece grave.

Lá está: é preciso manter o espírito crítico, usar tudo como sempre usámos tudo. Da mesma maneira que desconfiamos de certas coisas que passam no jornal, de muitas coisas que os políticos dizem, de algumas coisas que ouvimos dizer, é preciso encarar estas redes com o mesmo espírito. E, a partir daí, podem tornar-se interessantes como ouvir um político ou ver um jornal. E participar, ou não, como estamos habituados a fazer.

O que mais me faz confusão é o termo "amigos". Da mesma maneira que a palavra "felicidade" anda cada vez mais a ser associada ao acto de consumir (desde uma t-shirt a um almoço), o termo amigos é demasiado forte. Incomoda-me, mas claro que faz parte da estratégia destes sites. Conscientes disso, devemos trocar, mentalmente, a palavra "amigos" por outra mais próxima da realidade destas coisas. Sugiro "correspondências". Pouco atractivo, não dá jeito nenhum dizer "Tenho 325 Correspondências no Hi5" e perde a força da palavra "amigos". Mas, lá está, é em defesa dessa palavra e do que ela realmente vale que devemos ver as coisas como realmente são.

Depois há a questão de levarmos todos vidas ultra-fixes nessas redes. Ou será um pouco mentira...?
O que nos pode levar para a crescente valorização do "eu". Eu acho, penso, faço, sou. Cada vez mais. Não serão as redes sociais anti-sociais? Ou apenas um reflexo do que se passa fora delas?

Pronto: discutir o Facebook, os Twitters e os Hi5 como discutimos e encaramos tudo o resto - é mais uma coisa que faz parte da realidade. Incomodar-nos com o que realmente interessa, não com a roupa do político, mas com o que ele diz - e por aí fora.

Pensamento do Dia: O Importante É Continuarmos a Ser Iguais A Nós Próprios. Oh Yeah!

t.

PS: Não sei o que é o localizador.
PS2: O melhor que já me aconteceu no Facebook foi ganhar um bilhete para um concerto!

Tiago FM disse...

Ah, outra coisa:

Não estar numa, ou em várias, dessas redes e afins ser sinónimo de "não existir" ou dar alguma espécie de sentido negativo a esse facto... Isso é simplesmente idiota.

Permitam-me: vão para o ©aralho.

João José Pires disse...

Sim, completamente.
O conceito do "não existir" é mesmo esse.
Aliás, como tenho amigos pró-facebook, tenho também amigos anti-facebook, e o que é engraçado, e sem querer ser injusto, os anti-facebook "existem" muito mais do que os outros.
Quanto ao que disseste acerca das "redes sociais anti-sociais", esse é já um termo usado por estudiosos dos media. Ainda hoje Eduardo Cintra Torres refere-se a isso no Público. Aliás, um artigo que subscrevo por completo.

Tiago FM disse...

Há 10 anos apareceram os telemóveis.

E também havia tomadas de posição, muitos diziam "não quero isso para nada", e opiniões mais ou menos drásticas.

Hoje, todos o têm, uns usam mais, outros menos. Uns são-lhes dependentes, outros passam bem sem eles. Uns gostam de explorar todas as possibilidades, outros ficam-se pelo mais básico.

Talvez estejamos a assistir a um pouco disso com as redes sociais. E, tal como os telemóveis, cada um fará com elas o que lhe for mais conveniente.
Ainda são muito novidade; hoje já ninguém discute "Telemóveis: Sim ou Não?". Estão aí e pronto, e mesmo quem diga "Não", provavelmente também os usa. Tornaram-se banais.

No entanto, há coisas mais importantes a discutir que as redes sociais. E o assumir de uma posição, ou uma facção, é dar-lhes mais importância que a que realmente têm. Discutamos outras coisas, mesmo que seja nos facebooks e afins. E tal como é possível só dizer e ouvir merda na esplanada, também se pode ler e escrever coisas decentes na rede social.

O importante é o conteúdo, não discutamos os meios.

Naturalmente, discutamos os meios como reflexo de tudo o resto. Mas não por serem bons/maus, ou facilmente soamos a Velhos do Restelo. E, repito, não é o que interessa discutir.

t.